ALUNO PORTUGUÊS GANHA MEDALHA DE PRATA NAS OLIMPÍADAS INTERNACIONAIS DE FILOSOFIA


José Gusmão Rodrigues é aluno do 12º ano na Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho, em Lisboa, mas frequenta já algumas cadeiras de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa por ter revelado, desde os 13 anos, uma aptidão "excecional" para a filosofia, contou hoje à agência Lusa o professor Domingos Diogo Correia, que o acompanhou a Viena.
Foi o próprio aluno que, ao ter conhecimento das Olimpíadas de Filosofia, "se pôs a pesquisar na Internet" e conseguiu autorização para, com o professor de há dois anos, constituir uma delegação nacional e apresentar-se em prova, revelou o docente.
"A autorização foi concedida pelo comité científico a título excecional, perante o compromisso de para o ano tentarmos fazer cá as Olimpíadas de Filosofia", explicou o professor.
Assim, tentarão realizar as provas pelo menos em Lisboa, para começar, se não for possível realizá-las em todo o país.
Ainda tentaram obter apoio através da Sociedade Portuguesa de Filosofia, mas não obtiveram resposta ao e-mail enviado.
A prova decorreu esta semana, consistindo num ensaio sobre filosofia que os alunos tiveram de apresentar numa das quatro línguas admitidas: inglês, francês, espanhol e alemão.
José Gusmão escolheu o inglês para expor o trabalho, a partir dos quatro tópicos fornecidos pelo comité. Cada aluno tem quatro horas para escrever o ensaio em qualquer uma das línguas oficiais, desde que não seja a sua língua materna.
"São tópicos sobre épocas históricas da filosofia, mas nunca se sabe ao certo os temas", indicou o professor.
Este ano, concorreram 30 países na prova destinada a alunos do ensino secundário. Cada delegação levou dois estudantes a Viena.
A Dinamarca recebeu uma medalha de ouro, Portugal e a Coreia do Sul conseguiram medalhas de prata.
A primeira edição desta iniciativa realizou-se em 1993, na Bulgária, por iniciativa do Departamento de Filosofia da Universidade de Sofia.

In http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2011/05/31/aluno-portugues-ganha-medalha-de-prata-nas-olimpiadas-internacionais-de-filosofia

A VALIDADE DAS HIPÓTESES: VERIFICABILIDADE VERSUS FALSIFICABILIDADE.

A concepção clássica do método científico considera que a ciência parte da observação de factos e recorre ao raciocínio indutivo para formular leis/teorias científicas. Karl Popper rejeita a concepção clássica de ciência ao defender que:

  1. A teoria precede a observação, isto é, não existe observação pura;
  2. O método da ciência não pode assentar na indução, pois esta não tem validade formal/lógica, os cientistas devem raciocinar dedutivamente; 
  3. Através do método hipotético-dedutivo, ao invés de pretender verificar, os cientistas devem tentar falsificar as consequências deduzidas da hipótese.
Como a verificação das consequências deduzidas da hipótese incorre na falácia da afirmação do consequente (de acordo com a regra do modus ponens a verdade do consequente não implica/garante a verdade do antecedente), Popper propõe que a metodologia que a ciência deve seguir é a do caminho inverso, ou seja, a falsificação, deste modo, respeita-se a regra lógica do modus tollens (a falsidade do consequente implica/garante a falsidade do antecedente).
Embora não rejeite o método hipotético-dedutivo, Popper propõe, em ruptura com os defensores da perspectiva vefiricacionista, um novo critério científico: qualquer hipótese científica tem de ser falsificável.
Popper designa o método da ciência que propõe como método de conjecturas e refutações, pois, enquanto uma teoria científica não for falsificada pode-se presumir que é corroborada (Uma hipótese ou teoria científica é corroborada por dados empíricos quando sobrevive a testes experimentais, isto é, quando não é refutada depois de ter sido posta à prova. Quanto mais severos são os testes, maior é o grau de corroboração que a teoria adquire.).

Apesar do enorme mérito que atribuímos à epistemologia popperiana, esta não pode deixar de ser criticada quanto aos seguintes aspectos: 
  1. A refutação não é prática/norma dos cientistas, não lhe está nos genes, pois, acima de tudo o cientista pretende confirmar as suas hipóteses e teorias; 
  2. A prática dos cientistas não podem deixar de recorrer à indução, podemos mesmo reconhecer na “corroboração” uma forma de indução.

A RELAÇÃO ENTRE SENSO COMUM E CIÊNCIA: AS PERSPECTIVAS DE POPPER E BACHELARD

Senso comum e ciência são conhecimentos distintos, pelo que se coloca o problema: “Que tipo de relação se estabelece entre eles?”.

Respondem a este problema duas perspectivas divergentes: a de Karl Popper, que defende a continuidade, e a de Gaston Bachelard, que propõe a descontinuidade/ruptura.
O senso comum é para Popper o ponto de partida de qualquer conhecimento mais aprofundado da realidade como a ciência, a filosofia ou o conhecimento racional. Considera que existe continuidade entre o senso comum e a ciência, constituindo-se esta como um nível de conhecimento mais rigoroso e aprofundado acerca da realidade. A ciência constrói-se corrigindo, reformulando e esclarecendo o senso comum através da crítica.

Ao invés, Bachelard sustenta que a opinião, senso comum, impossibilita aceder ao verdadeiro conhecimento, constituindo-se como um obstáculo epistemológico. A opinião limita-se a constatar a ocorrência dos fenómenos, sem ter, assim, qualquer preocupação de se questionar de forma sistemática, e rege-se por critérios de utilidade, pelo que não fomenta o progresso intelectual. Neste sentido, Bachelard propõe a ruptura da ciência com a opinião, o senso comum.

A TEORIA DA CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA (CVJ)

Platão, na obra Teeteto, defende que o conhecimento [do tipo proposicional] é uma crença que o sujeito tem [acredita que], que deve ser verdadeira [sabe que], isto é, a representação mental do objecto, traduzida na proposição, deve estar de acordo com a realidade, e justificada [a crença está justificada], ou seja, o sujeito deve ter fundadas razões para aceitar essa proposição.

“a opinião verdadeira acompanhada de razão é ciência, e (…), desprovida de razão, a pinião está fora da ciência e que as coisas que não é possível explicar são incognoscíveis (…) e as que é possível explicar são cognoscíveis.”
Platão, Teeteto ou da Ciência, Editorial Inquérito, Lisboa, 2ª Ed, s/d, pp. 159.

Se podemos aceitar facilmente que as crenças falsas não podem originar conhecimento [o que é falso não é conhecimento], não deixa de ser igualmente claro que, para evitar a adivinhação e/ou sorte, as crenças que são verdadeiras precisam ainda ser justificadas através de razões que as expliquem e ou sustentem.
Platão, como os demais defensores da teoria tripartida do conhecimento (teoria CVJ), considera a crença, a verdade, e a justificação condições necessárias e suficientes para que exista conhecimento. Estas 3 condições devem aplicar-se simultaneamente para podemos ter conhecimento.


A teoria CVJ, como qualquer outra, foi objecto de críticas/objecções. Em 1963, Edmund Gettier apresentou casos exemplificativos (contra-exemplos) que refutam a tese defendida pela teoria tripartida do conhecimento. Embora aceite a crença, a verdade e a justificação, como condições necessárias ao conhecimento, considera no entanto, que são insuficientes.
Como demonstram os casos apresentados por Gettier, não basta ter uma crença verdadeira justificada (CVJ) para possuir
conhecimento. Para Gettier podemos ter crenças que são verdadeiras, para as quais podemos ter justificadas razões, sem que, no entanto, possamos falar de conhecimento, mas apenas de mera coincidência ou acaso. Assim, verificamos que nos casos em que temos uma CVJ sem conhecimento a justificação apresenta-se apenas como credível e não como infalível.
Segundo a concepção de Gettier é, pois, necessário encontrar uma nova condição [extra] que, conjuntamente com a crença, a verdade, e a justificação, permita determinar o que é o conhecimento.
No âmbito da teoria do conhecimento, deve-se então reflectir para procurar uma nova concepção de conhecimento, isto é, uma concepção quadripartida (crença + verdade + justificação + condição extra).

EXAME DE FILOSOFIA VAI SER REPOSTO NO ENSINO SECUNDÁRIO

 A disciplina de Filosofia deverá voltar a integrar, já no próximo ano lectivo, o lote de exames obrigatórios para a conclusão do ensino secundário. Esta foi a garantia que o Ministério da Educação deu à Sociedade Portuguesa de Filosofia, indicou ao PÚBLICO o seu presidente, Ricardo Santos.
(…) Tanto Ricardo Santos, como Alexandre Franco de Sá, presidente da Associação de Professores de Filosofia, asseguram que o primeiro passo será dado já em Fevereiro próximo, com a realização, no 10.º ano, de um teste intermédio de Filosofia. A informação sobre a estrutura e conteúdos da prova já foi enviada para as escolas. Estes testes funcionam como ensaio para os exames nacionais, tendo vindo a ser realizados, nos últimos anos, nas disciplinas sujeitas a estas provas. E são facultativos. Segundo Ricardo Santos, pelo menos um terço das 600 escolas secundárias inscreveu-se para realizar o teste de Filosofia.
Ricardo Santos está convicto de que a reafirmação da importância da disciplina será bem acolhida pelos estudantes e que não será difícil cativá-los: "O ensino antes era muito centrado na história da Filosofia. Hoje esta já não tem tanto peso e o ensino é mais focado em problemas que os jovens sentem e que os perturbam e a Filosofia dá-lhes respostas diferentes para estes problemas". Defende, no entanto, que o programa em vigor "está muito ultrapassado, não sendo, por isso, adequado".



CLÍNICA DE ARGUMENTOS


A filosofia é uma actividade: é uma forma de pensar acerca de certas questões. A sua característica mais marcante é o uso de argumentos lógicos. A actividade dos filósofos é, tipicamente, argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os argumentos de outras pessoas ou fazem as duas coisas. Os filósofos também analisam e clarificam conceitos.
 
 Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, Lisboa, 2007, pp. 15-16

FRAGMENTOS DE UM PENSAMENTO AMOROSO

Podia ter sido irmã gémea da máxima de Descartes: “Amo logo existo”. Ou: “Existo porque amo”. Ou ainda “Amo e existo ao mesmo tempo”. Mas não. O amor foi um passageiro clandestino na bagagem dos filósofos. “Quase um terreno baldio”, chegam a afirmar Aude Lancelin, 37 anos, e Marie Lemonnier, 36 anos, duas jornalistas do NouvelObservateur, na introdução a Os Filósofos e o Amor, livro em que tentam deslindar as relações entre pensamento e sentimento amoroso.
O resultado são fragmentos de vida e escritos avulsos ou sistemáticos que levantam o véu a um tema que nem sempre foi tabu, embora incómodo em todas as situações. Pois a força do amor chegou até a importunar uma figura tão racional e metódica como Kant, que apesar da sua castidade, desabafou a certa altura que “quando eu poderia ter sentido necessidade de ter uma mulher, não podia alimentar nenhuma, quando passei a poder alimentar uma mulher, já não tinha necessidade dela”. Faltou-lhe a oportunidade. E não é caso único ver um filósofo que, não falando de experiência própria, procura falar da experiência do amor, como também fez Kierkegaard, através da sua atormentada renúncia à vida conjugal. Foram estes assombros biográficos e intelectuais que incentivaram Aude Lancelin e Marie Lemonnier, ambas com formação em Filosofia, a avançar para esta investigação. Sabiam, à partida, que sendo “condição sine qua non para a felicidade da maior parte dos seres humanos, motivo imperecível para qualquer drama literário, o amor é abordado pelos filósofos com a prudência de quem entra na jaula de uma fera correndo o risco de ser imediatamente devorado”. No entanto, um estudo inicial que Aude Lancelin fez sobre Jean-Jacques Rousseau mostrou -lhe que os filósofos “à sua maneira desajeitada ou fanfarra, frequentemente lancinante, por meio até de uma animosidade feroz que se manifesta mesmo entre alguns, todos falaram do amor de um modo decisivo”. Uns mais do que outros, obviamente, embora “todos eles, na verdade, têm qualquer coisa a dizer-nos acerca do amor, da ilusão de eternidade que ele procura, do sofrimento que ele engendra e do modo como podemos tentar dominar esse sofrimento”. O livro afirma-se assim em três níveis: apresentação das linhas de força das obras dos filósofos, a respectiva interpretação e a referência a dados biográficos. De resto, é na alternância destes três registos que esta obra se torna uma leitura compulsiva, por vezes irónica, outras vezes luminosa. Ao lê-la sentimo-nos num barco que navega pelos admiráveis oceanos da Filosofia. E que os pensadores aqui incluídos - Platão, Lucrécio, Montaigne. Jean-Jacques Rousseau, Immanuel Kant, Arthur Schopenhauer, Soren Kierkegaard, Friedrich Nietzche, Martin Heidegger, Hannah Arendt, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir - são colossos da cultura Ocidental (o critério geográfico é assumido pelas autoras, que não quiseram aventurar-se por outras concepções filosóficas). E em alguns casos, quer pela existência que levaram, quer pelas relações que mantiveram (como Heidegger e Arendt e Sartre e Beauvoir) são perfeitos exemplos de uma praxis amorosa.
Mal o caminho do pensamento sobre o Amor começa a ser traçado, na antiguidade grega, abrem-se logo duas vias. São dois momentos que se distinguem claramente e que têm em PIatão e Lucrécio os seus principais mentores. Aude Lancelin e Marie Lemonnier esclarecem-nos: “De um lado, a magia branca do amor, do outro, a sua magia negra. De um lado, a ideia de que aquilo que é vivido durante uma hora ou ao longo de 20 anos tem como ponto de fuga a eternidade. Do outro, a de que há nisso um bruxedo atroz que só pode conduzir ao desastre e que deve portanto, ser obrigatoriamente erradicado”.
Deste dois polos vão aproximar-se ou afastar-se os filósofos que se seguem e que de certa maneira acompanham o curso da História da Filosofia dos últimos séculos. Montaigne e a infinita necessidade de amar, mesmo se fora do casamento, porém com moderação. Rousseau e o seu romantismo exacerbado e ameaçado pelos males da sociedade. Kant e o seu racionalismo, segundo o qual o sexo é um mal necessário, na medida em que o ascetismo levaria à extinção da espécie. Schopenhauer e o seu pessimismo militante, que o faz defender a poligamia. Kierkegaard e a solidão voluntária, em busca de um amor sublime capaz de resgatar as ideias ancestrais de belo. Nietzsche e a volúpia do poder, que se subjuga às leis do desejo numa guerra contínua. E os pares amorosos já referidos, como duas faces de uma mesma moeda, a fidelidade e a infidelidade, que se unem na necessidade do amor. Nas margens, encontramos mães ausentes ou castradoras, amores impossíveis ou frívolos, confissões e arrependimentos, monumentos filosóficos que procuram compreender, como lembra Eduardo Lourenço no prefácio, aquele fogo que arde sem se ver. Esse amor camoniano tão natural como o pensamento. Porque, como se concluiu no Banquete, de Platão, e lembram Aude Lancelin e Marie Lemonnier, “aquele que não deseja nem ama não é já de facto um homem”.
LUÍS RICARDO DUARTE, Jornal de Letras, Ano XXX, nº 1040, p.36.

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA LÓGICA

A Lógica é:

Com graça ...



Em sentido filosófico ...
"A lógica pode ser definida como a ciência que estuda os princípios gerais do pensamento válido. O seu objecto consiste em discutir as características dos juízos considerados não como fenómenos psicológicos, mas como exprimindo conhecimentos e crenças; em particular, procura determinar as condições pelas quais temos o direito de passar de certos juízos dados a outros juízos que são a sua consequência... Pode, pois, ser chamada, uma ciência normativa ou regulativa; possui essa característica em comum
com a ética e a estética."
Keynes, Formal logic, Introdução, 1
In, André Lalande, Vocabulário Técnico e crítico da Filosofia, Vol. II, p. 41