A CONSCIÊNCIA MORAL

Imaginemos um magistrado a quem acaba de ser feita uma proposta tentadora a troco de uma sentença favorável. Tratando-se duma pessoa íntegra, repeli-la-á imediatamente com indignação, como se fora uma ofensa. Mas suponhamos que, por momentos, se deixa fascinar pela tentação: embora reconheça a sua desonestidade, não se decide afastá-la, perturbado com a perspectiva de um lucro fácil. Entretanto, esta hesitação não deixa de ser acompanhada duma grande relutância, pois, no mínimo, uma tal cumplicidade repugna-lhe. A recordação de um passado honesto, a sua honra e reputação, a vergonha que já pressente, tudo isto provoca um movimento de repulsa, traduzido por uma voz interior que o admoesta: não faças isso.
Todos conhecemos estas lutas secretas. Pouco importa que as suas repercussões sejam profundas ou superficiais: elas formam a teia da nossa vida quotidiana. As minhas acções de modo algum podem ser indiferentes. Obedecem a uma lei que eu a mim mesmo dito e da qual porém, reconheço não ser o autor. É este um testemunho a que é impossível subtrair-me. Posso perguntar: – Que proveito tirará se daí obedecer? – Isso não importa; é proibido e desleal. E se, não obstante, desobedeço, no mínimo sentir-me-ei culpado e confundido.
Estas emoções e sentimentos, estes juízos mais ou menos explícitos, esta sentença a respeito do valor dos nossos actos, proferida por cada um nós, constituem a consciência moral.

G. Madinier, A Consciência Moral.